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segunda-feira, 20 de junho de 2011

Dia 172: Oeste

Essa semana que passou foi difícil, parecia que todos os meus treinos eram ruins. Eu saía de casa sem vontade de correr, fiz distâncias menores em alguns dias, mas não larguei o osso. Corri de segunda a sexta com ou sem vontate, treinando mais a cabeça que o corpo. Eu me lembro do treino de 10 km que eu fiz na quarta, ou na terça, que marcou bastante. A cada minuto que passava o lado preguiçoso do meu cérebro dizia "para, dá uma descansada", "seu corpo tá cansado, você não vai ter o mesmo rendimento dos outros treinos", "ninguém tá vendo"...
Mas não é bem assim que funciona. Aproveitei o momento que eu estva na merda pra provar pra mim que eu consigo vencer aquilo. E realmente, a cada minuto que passava minha cabeça pedia pra parar, e eu tinha a sensação de cansaço no corpo inteiro. Mas eu sabia que ele podia aguentar mais alguns km, o problema estava na minha cabeça. E eu não dou o braço a torcer pra cabeça. Porque perder pro corpo é sensatez, mas perder pra cabeça é sem vergonhice. E naquele dia eu fechei 10 km em 49 minutos. Bem abaixo do meu melhor tempo (45'41"), mas o treino não era pra abaixar o tempo, e nem de longa distância, mas sim psicológico, e esse treino eu sei que eu cumpri.

Chegou o sábado e eu fiquei enfurnado em casa estudando uns circuitos, quando fui dormir senti aquela energia acumulada pedindo pra ir dar uma corrida.
No domingo eu saí pra correr no entardecer, não estava a fim de correr muito, mas "fui indo" pra ver no que dava. Saí de casa, cheguei na rodovia e consegui manter um pace bem legal, sentia que estava com um tempo bom. Meu corpo não cansava, eu não senti nenhuma dor durante o treino, não tive que mudar miha respiração nem uma vez pra corrigir aquele "ar na cortela". Estava indo tão bem qu decidi fazer os 10 km. Não, 10 km em 45 min.
Passei a semana inteira treinando no duro, sem conseguir um tempo bom, domingo eu ia dar o troco.
Entrei na marginal depois dos 3 km e segui correndo até que cruzo com um grupo de uns 6 ou 7 guris que resolvem ir correndo junto comigo, e eu entro na brincadeira e digo "até o mercadinho, vamos ver que chega lá!", e um deles passa do meu lado correndo como se estivesse fugindo da onça e eu incentivo "vamos lá cara, até o mercadinho", aí eu acho que ele se ligou que não ia aguentar mais e foi ficando pra trás.

Dou risada e sigo em frente, a esta altura estava quase no mercadinho, onde faço a volta, quando olho pro céu e vejo umas nuvens rosas salpicadas num céu já escurecendo. Pensei comigo "que bonito", quando faço a volta e me deparo com um dourado esplendoroso num céu ainda nao tão escuro. Era o próprio pôr do sol. E enquando eu seguia de volta eu sentia que rumava em direçao ao oeste, parecia que o céu dourado e avermelhado estava de braços abertos pra mim, reconhecendo o quão duro foram os treinos da semana inteira e de alguma maneira me confortava de volta e me hipnotizava. Como é bom correr hipnotizado, vendo o dourado ser lentamente substituído por tons igualmente bonitos de um vermelho brilhante, que parecia pulsar no mesmo ritmo que a minha respiração.

Aquilo foi realmente bonito. Se tem uma coisa que eu gosto, é do por do sol. Eu gosto da palavra oeste, correr em direção ao oeste, e aquele treino foi realmente bom. Quando eu entro na cidade de novo eu percebo que meu tempo ainda estava dentro, e que eu continuava confortável. Rosolvo aumentar um pouco o pace, e mudo a meta. Queria agora quebrar a marca dos 45 min. E pela velocidade que as placas e os arbustos passavam por mim, eu percebia que estava correndo realmente rápido. Mais rápido que o normal. Entro nos 9 km com 40'40", e subo um pouco mais o ritmo. O negócio era quebrar os 45'. Faltando 100 metros eu dou o sprint, a parada era em um ponto de ônibus, e nem no sprint eu sentia desconforto. Treino raro.
Chego no ponto, paro o relógio e vejo 45'11". Está bom.

Peso os prós e os contras:

contras: não quebrei a marca dos 45'.

prós: eu bati meu prórpio tempo em mais de 30 s; corri extremamente confortável num ritmo mais forte que o costumeiro; me diverti com a piazada no meio do caminho; e corri contemplando um pôr do sol de tirar o fólego.

Tá ótimo. De longe foi o meu melhor treino. Eu sei que eu não teria corrido tão bem ontem se eu não tivesse treinado a semana inteira no sofrimento, e no final foi tudo compensado com uma ótima corrida e um ótimo tempo.

Pra fechar aqui um ótimo som com cara de pôr do sol, sugestão do Jeison:



Um abraço, Nicholas - 77,8

quinta-feira, 9 de junho de 2011

Dia 161: O país do futebol

Desde que eu comecei a correr pra valer, poucos treinos foram tão penosos como o de hoje. E não foi nem por causa do volume e nem por causa do ritmo. Parece que meu corpo simplesmente não queria correr hoje. Por volta do 3º km comecei a sentir uma dor no pé, entre o calcanhar e o dedão, que me acompanhou pelos 9 km mais extensos que eu já corri. Espero que não seja um princípio de uma fascite plantar.

Por outro lado os outros treinos da semana foram muito bem. Agora estou correndo o km bem próximo dos 4'30". Fechei 10 km em 45:59 segunda e 45:46 na quarta. São alguns segundos a menos a cada km e alguns mg a mais de endorfina. Como é bão.

Essa semana estou treinando sem bike, por causa de um cidadão que enfiou o carro na minha frente - na minha preferencial -, e que por conta da frenagem entortou meu aro traseiro. A roda de trás travou e eu tive que jogar a bike de lado, derrapando tipo um "piá pansudo". A diferença é que eu estava a quase 40km/h. De qualquer forma, espero que não seja meu aro que tenha entortado.

Agora há pouco estava passando uma reportagem sobre a E3, uma feira de videogame, e eu me dei conta de que na minha infância, os que gostavam de jogos de futebol eram mais magros.

A verdade é que eu nunca achei graça nem no futebol e nem em jogos de videogame de futebol, e se tem uma coisa que eu não entendo é a estúpida associação direta de futebol com a palavra esporte. O futebol é um esporte, mas esporte não é futebol. O Brasil é uma país com um desempenho patético em olímpiadas por causa dessa idolatria ao futebol.

Se eu nunca me interessei por esporte quando criança, grande parcela dessa culpa é porque aqui somos obrigados a respirar o futebol. Assim como o carnaval, e o big brother. Só que carnaval e big brother é só no começo do ano. Eu só descobri que praticar um esporte é prazeroso, que ler sobre esporte é legal - porque assistir um programa de "esporte" na tv aberta e ver algo além de futebol é coisa rara - quando eu comecei a me informar sobre a corrida, sobre o ciclismo e consequentemente sobre o triatlon.

Meu problema não é com o futebol. É com o fato de atletas de tanto potencial e vontade serem ofuscados pelo futebol, e serem deixados de lado. Terem que implorar por um patrocínio miserável enquanto os patrocinadores brigam pra estampar seus nomes em camisas de times da série A.

Não sou nenhum pseudo intelectual "comunista", que assume as dores dos pobres coitados e clama por igualdade entre os esportes, mas deixar de investir nos atletas brasileiros é burrice. Atleta de verdade. Daqueles que acordam 4 horas da manhã pra treinar, ir pro trabalho e quando chega em casa calça um par de tênis e sai pra correr.
Daquelas que passam o fim de semana fazendo longas na corrida e no ciclismo e que durante a semana fazem um malabarismo pra arrumar horários e ir treinar. Atleta de verdade.

De qualquer forma, não cabe a mim ficar revoltado com a desigualdade social, a fome, a peste e a injustiça do mundo. Esse direito se reserva aos adolescentes e àqueles que assistem as olimpíadas na rede globo e se frustram com fato dos Estados Unidos ganharem mais medalhas que o Brasil, embora a seleção seja penta.

O Brasil não merece os atletas que tem, aqueles de verdade, e a estes, os quais adimiro profundamente, eu presto minha homenagem aqui.

E assim a gente continua sendo, obrigatóriamente, o país do samba, do Rio de Janeiro, do futebol e do Pelé; O país que tem um baralho inteiro no bolso mas que insiste em jogar com uma carta só.



Um abraço, Nicholas - 78,8